Sem hora
Quando menina, suas agendas eram de janeiros vazios, que ela carinhosamente preenchia com poesias, trechos de livros e mensagens escritas por amigas. Mas a vida e os sonhos predestinados foram tratando de ocupar as lacunas do calendário. O trabalho levou os janeiros, os feriados emendados. Os filhos tiraram-lhe a alegria e o sossego das férias de julho. O casamento, a possibilidade de celebrar a virada de ano com os pais. Também ficou no passado o ritual adolescente de se sentar no peitoril da janela do quarto para ver o sol se avermelhando ao fim do dia e comer as pipocas…
Amor paliativo
– Não sei por que os bichos que damos a ele morrem tão rápido. Ele cuida com tanto carinho. – Ah, Regina, é assim mesmo. Zequinha é um menino muito bom. Atrai muita inveja e os animais…
Rogai por vós
Em todas as vezes que rezava o “Pai Nosso”, invertia com tanta convicção alguns “nossos” e “vossos” que quando chegava ao “amém” parecia estar reclamando o trono de Deus. Mas não fazia isso por soberba. É que…
Milagre da multiplicação
O verão saturava o azul do céu de Candela. O calor era intenso num ar estático aprisionado entre as montanhas. Mas as crianças hiperativas estavam proibidas de por a transbordar de água potável suas piscinas portáteis de…
O velho pião
Ele estava lá. Mas o amigo não. Sentado sobre a mureta de pedra da ponte antiga que une os dois lados do rio em sua entrada em Candela, estava Antônio. Em apenas oito anos de vida ele…
No caminho do ouro?
Bem na entrada de Candela, na praça do trevo, há um totem da Estrada Real, sinalizador comum em regiões por onde os caminhos do ouro passaram. No caso do monumento candelense, colocado ali não se sabe por quem,…