Faça as contas!
A equipe de filmagem estava pronta para iniciar as entrevistas com os funcionários da fábrica. Os depoimentos gravados iriam compor o vídeo comemorativo pelos 70 anos daquela imponente indústria, que expressava em seu complexo arquitetônico a insistência em se fazer conviver o sopro quente dos ventos remotos com os ares da modernidade. Ladeados por amplos galpões metálicos, de onde gritava o maquinário automático alemão, o casarão barroco e o calçamento em pé-de-moleque eram vestígios corajosos do que havia restado da fazenda de café do século XIX.
Nesse casarão, onde funcionava a sede administrativa, foi encontrado espaço para improvisar um estúdio para a gravações. Quando o produtor se preparava para buscar o primeiro entrevistado, a presidente da empresa chegou trazendo um dos empregados que participaria do filme.
– Este é o Seu Bené, nosso funcionário mais antigo – apresentou a executiva. – Cinquenta e nove anos de casa. Vai dar um depoimento bem bonito para nós.
– Que tesouro é o senhor, hein, Seu Bené? Pode ficar aqui, em frente a esta câmera, e olhar para esta lente – orientou o cinegrafista. – Com quantos anos o senhor está?
– Vou fazer sessenta e sete mês que vem, com a graça de Deus.
A presidente interrompeu com um sorriso amarelo:
– Essa parte vocês não colocam no vídeo, não, tá?